segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

amor, suor e sorte


Consegui reunir, e simplificar, o que representa pra mim as três coisas mais importantes de se ter na vida, pra seguir em frente.

Amor.

Por todas as coisas, por cada pessoa. Por momentos especiais, por lugares especiais, por memórias especiais. Amor em forma de carinho, em forma de saudade, em forma de paixão. Amor em forma de arte, de palavra, de foto, de viagem. Amor em forma de tatuagem, de presente, de família. Amor para acordar todos os dias e ter um motivo pra sair da cama. Amor para seguir em frente.

Suor.

É o resultado da força que a gente precisa para viver. A força é o que nos garante em pé e caminhando. É o que nos faz vencer. E o suor é o que mostra que essa força é de verdade, é intensa, verdadeira. Suor é tudo aquilo que nós depositamos energia, aquilo que nós acreditamos. O suor é mais do que aquele que escorre pela pele em momentos de alegria, euforia, prazer. É aquilo que nós depositamos em tudo que vale a pena, que vale o nosso esforço. E sem o suor não dá pra seguir em frente.

Sorte.

Por tudo aquilo que nós não conseguimos controlar. Por tudo que não está ao nosso alcance. Por tudo que nós precisamos desejar, rezar, pedir. Um golpe de sorte pode mudar uma vida, uma história. Todos nós precisamos de sorte na vida. A sorte de um amor verdadeiro. A sorte de um suor que vale a pena. A sorte pela sorte. Porque com o amor e o suor nós conseguimos mover tudo que queremos e podemos. Mas só a sorte pode jogar do lado do inesperado. E o que seria da vida sem o medo? A sorte é o frio na barriga para seguir em frente.

E podem dizer que tem muito mais coisas necessárias para a vida. Mas,  pra mim, todas elas se resumem nessas curtas e simples palavras. Saúde? Dinheiro? Fé? Sucesso? Felicidade? Tudo isso é uma questão de amor, suor e sorte nas devidas proporções.

E, se nesse clima de final de ano, eu pudesse mandar uma mensagem para todo mundo, daquelas de prosperidade, eu desejaria exatamente isso: amor, suor e sorte na medida certa para a vida seguir em frente.
 


sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

esta não é uma história de amor



Calma. Espera. Deixa eu organizar o que quero dizer.

Naquela noite, Clara voltara cedo pra casa, porque era muita coisa dentro de si para suportar até às três da manhã. Estava confusa. Sabia que queria dizer, mas não sabia como. Ligar? Pessoalmente? Um e-mail? Um sinal de fumaça, talvez? Quem sabe uma carta? É, nada tradicional.. era tarde mas, ainda assim, ela pegou um lápis, um papel, e começou.

Eu deveria tirar a maquiagem antes de dormir, mas ela ainda está intacta. Sem borrar ao dançar, ao cochilar ou ao chorar. Até porque, eu não chorei. Você não me viu chorar, apesar da minha vontade. Você não me ouviu reclamar, muito menos xingar, apesar da minha vontade. É um volume muito grande de vontades reprimidas para uma noite, uma semana, um mês. Mas é que, sei lá. Isso tudo, todo esse "medo" do nada-acontecer ou do tudo-acontecer-rápido-demais tem me deixado cansada. 

Eu não preciso de você, e nem você de mim. Talvez por isso as coisas sejam mais complicadas. Eu ouvi todas as suas objeções, entendi todos os seus muros que correm o risco de serem bombardeados a qualquer instante. Gravei tudo, mas não reproduzi nada. Percebeu? Você acha que me conhece pelo meu jeito tranquilo, um tanto quanto esquisito, ou diferente, tanto faz. Posso ser isso mesmo, mas, na verdade, você não sabe nada.

Esse vem e vai deixa um gosto incômodo na minha boca. Valeu a pena deixar o orgulho de lado? Não. Mas não vou negar, vale a tentativa, me deu prazer, foi bom pra mim. Sempre é. Mas depois o gosto incômodo. É sempre assim. No fundo, eu não estava enganada quando te disse que "vocês homens não valem nada". É claro que esse é um clichê ridículo que nem de longe é verdadeiro. Entenda que o que eu quis dizer é que eu sabia como ia acabar. Bem no fundo eu sabia, ou tinha me programado pra esperar isso. Entende o porquê da minha insistência? Porque eu queria estar errada. Eu nunca te disse como é difícil pra mim demonstrar sentimentos. E olha que sou eu quem gosta de poesia. Nem pense também que isso é grande coisa, só pra mim. Pode dizer o que quiser: chata, antiga, demodê. Azar o seu, eu não ligo.

Pra ser sincera, o azar é seu em todos os sentidos, nessa história toda. Porque você é burro, meu caro, burro. Lembra daquela história de eu gostar de você, me importar com você, ter medo por você? Então, esquece. Claro que eu vou ouvir aquela banda foda que você me mostrou e vou lembrar, como eu to fazendo agora, mas isso é...bobagem. Eu só ainda to na dúvida se é tu me virar as costas e sair sem sequer dizer alguma coisa decente, ou ter sido mais um que saiu que ta me incomodando mais. Na real, nada foi bom, mas, não me leva a mal, eu acho que a segunda aperta mais. 

Eu acho, às vezes, que seria mais produtivo perseguir pombos em praça pública. Não? Bem, eu só queria dizer que, apesar desse seu jeito todo iceberg de ser, eu te acho um cara legal. Mesmo. E mesmo que tu não concorde com isso. Tu é um dos melhores caras entre os piores que já conheci. Ou o pior entre os melhores. Não sei. 

Não sei quando ou se a gente vai se falar de novo... então... se cuida, okey? Vê se desfaz esses muros e, já que tu não vai mais me mandar relaxar, pega pra ti o conselho. Aposto que pode ser útil.

Ah, mais uma coisa, fica tranquilo que isso não é uma declaração, um pedido de paz ou algo do tipo. É só um pouco, talvez, do que eu quisesse dizer agora. Não dá bola, assim que meu ataque trevoso de angústia cessar, eu sei, vai ta tudo bem. Na verdade, ta tudo bem. E, por mais que eu não costume concordar, tenho que admitir que parece ser, sim, melhor assim.

Clara releu tudo o que acabara de escrever.
Rasgou o papel, tomou um copo de água e foi dormir.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

entusiasmo crônico




Eu me sinto feliz quando encontro algo como isso em algum post antigo, porque é algo com que me identifico profundamente. No Caderno do Estadão do dia 31/08, uma terça-feira, sobre Fernando Meirelles: 

Fernando Meirelles sofre de entusiasmo crônico. Como ele já admitiu, volta e meia é arrebatado por uma alegria que o faz ter vontade de avançar sem medir obstáculos. "Quando a onda passa, já estou comprometido e aí, às vezes, vem o arrependimento. Mas sigo em frente. Com a idade, aprendi a controlar isso e sei que, mesmo quando vem a baixa, uma hora vou pegar a onda novamente. Se num momento me entusiasmei, é porque algo ali falou com alguma parte dentro de mim. Então, vale a pena ser investigada" - disse o diretor.

esta foto é do fotógrafo Jaime

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

antes de dormir



Hoje já é sexta-feira, e o último dia de novembro. Todos já foram pra casa, menos eu. Continuo aqui, me sentindo com sono e sufocada. 
O calor lá fora está insuportável, mas aqui o ar condicionado deixa o ambiente agradável. 
O problema não é lá, é aqui ó, aqui dentro. Eu me sinto sufocada a partir da garganta, um nó que me prende tudo que não transparece no sol.


Esta fase da minha vida é chamada de dormir pouco.
E hoje eu estou com tanta vontade de deixar as palavras aqui, de conversar, bater um papo. 
Falar de um monte de coisa que tá martelando na minha cabeça.

Já chegou a noite e o sono está tão pesado, tô tão cansada, meus olhos estão quase fechando.
Tenho ficado tão pouco tempo em casa que não tinha reparado na decoração de natal que encanta a sala de  jantar. Acho lindo o quanto minha mãe adora o natal e como ela se sente feliz arrumando cada luzinha, cada reninha do trenó. Pra ficar ainda mais bonito, quase tudo está nas minhas cores favoritas: vermelho e verde. 

Eu quero comentar sobre 2012, me deixa agradecer, permita-me falar do tempo, de tudo rápido que se passou tão depressa, me dê um pouco de calma e uma cama para eu poder descansar e pela manhã dizer, dizer e dizer.

Mas, hoje, eu só preciso dormir. 

sábado, 17 de novembro de 2012

pensar é o inferno.



Essa beleza é do Júlio Emílio Braz, no livro Aprendendo a Viver.
Tem mais, muito mais aqui no Grifei num livro - um dos meus tumblrs favoritos. 

domingo, 28 de outubro de 2012

assim que dezembro acabar



" Ta na hora de sair desse papel de narradora e virar protagonista, menina.
   Se não a vida ó - voa, voa, voa.
   E tu vai estar tão superficial... "

Essa foi a bronca de um amigo, inconformado com a minha passividade frente às coisas comuns da vida. Sabe, sair pra uma festa, sair sem rumo, encher a cara, quebrar a cara, essas coisas.

Tenho estado ansiosa. Correndo dentro de mim mesma.
Querendo ser apenas uma borboleta. Porque ela voa.

Essa vontade de ter tudo sob controle não combina com a leveza da minha borboleta.
Ela voa com o coração batendo. O meu está correndo.
Latejando como um furacão.
Um órgão cheio de ar, que de tanta vontade de respirar, às vezes para.

Só os conformados passam ilesos pelo fim do ano. Pelo vaivém que preenche a cabeça -avaliando tudo. Pela vontade de mudar os dadinhos, o dominó, o jogo de palitos.

Nunca passo um fim de ano da mesma forma que entrei. Ele sempre me transforma, transtorna, puxa meu coração e o faz parar. Porque eu não me conformo. Eu sinto.

Essa semana foi o ápice do meu cansaço. Como diz minha mãe, uma hora o corpo tem que reclamar. E até que demorou. A gente vive reclamando da rotina, do ônibus, do café e do cabelo. Mas, sabe, não é por mal. Não é uma reclamação para ser levada a sério, que devam dar ouvidos e intervir. É só pra falar alguma coisa, extravasar de alguma maneira. No fundo, eu gosto muito de tudo isso.

Eu acredito piamente na sabedoria de Fernando Pessoa: "que tudo vale a pena quando a alma não é pequena". Depois de ver os desejos tomando forma, voando longe com a imaginação, eu só posso desejar que o nosso coração continue parando a cada fim de ano. Para que eu nunca me esqueça de que preciso continuar fazendo-o bater. De que preciso me manter inconformada, resistente, me lembrando de que o mundo são mais pessoas e menos coisas, mais momentos criativos e menos trabalho burocrático.

De que a gente não precisa seguir o que todo mundo faz.

Assim que dezembro acabar, eu quero ser borboleta.


quinta-feira, 11 de outubro de 2012

ela não quer alguém pra dividir o brownie



Ela é solteira. Não sozinha. Ela pinta as unhas de vermelho quando quer. Mas, também, sabe deixar as unhas em cacos quando dá vontade. Esbanja esquisitices ao falar dos seriados prediletos. E se cala quando o assunto é sobre o porquê dela não ter namorado.


Ela usa vestido de tricô, daqueles clichês para tomar chá quando o tempo é frio. E bebe cervejas em canecas, como homens pré-históricos. Ela ri de palavrões e de piadas de humor negro. Mas, também, se derrete mais do que picolé em frigideira quando recebe um SMS romântico de madrugada. Mas por que não namora?

Ela acorda, escova os dentes de quem já usou aparelho, toma chocolate quente, se arruma e vai trabalhar. Prefere usar preto. Mas desbanca qualquer havaiana bonita quando inova em alguma vestimenta cheia de flores coloridas. Ela é linda e desconversa. Fala do tempo, do futebol, da novela, da mãe, da crise do Paraguai e do Joseph Gordon-Levitt. Mas por que tu não namoras?


Quando o assunto é sexo, ela fala menos do que escuta. Escuta com os ouvidos, com os olhos, com a boca e com os pêlos da coxa. Transa menos do que deseja. E sabe esconder alguma aspirante a Sônia Braga dentro daquele decote comportado. Ela curte os Beatles, os Novos Baianos, Caetano e o Cícero. E fala que eu tenho péssimo tom de voz. Lê Caio, Keroauc, Fante e Gabito. Mas diz que, também, gosta das minhas histórias.

É estranha, também. Assumo. Corta o cabelo de acordo com as fases da lua e gosta de comer macarrão com feijão. Gosta de umas bandas que ninguém conhece e chora com as histórias do Nicholas Sparks. Liga o ar condicionado porque gosta de dormir sentindo frio e acaba repousando feito uma esquimó com meias e edredom. Uma linda esquimó, por sinal. Não sabe usar o celular. Costuma atender as ligações somente após a quarta tentativa de chamada. Não, ela não ignora. Ela perde tempo é procurando o celular na bolsa, debaixo da cama ou na pia do banheiro. Mas, vez em quando, ela sabe ignorar também. Não sabe dançar. Recusa os convites, mas adora ser convidada. Odeia batom e gosta de brincos de pena.


Mas por que ninguém conseguiu ultrapassar esse muro de Berlim que você ergueu no teu peito? Ela desconversa. Ri de canto de boca e me pergunta se eu fumo tentando desviar o assunto pra longe. Eu insisto. Falo coisas demodês e jogo no ar o fato de que eu a acho perfeita. Ela empina o nariz o fino, me lança teus olhos verdes escuro e ajeita-se sobre a mesa. Muda o tom e me fala: “Porque eu não quero”. E eu rio sem graça da minha maldita ideia de achar que todo mundo quer ter alguém para dividir os brownies.

 eu adoro encontrar blogs que todo mundo conhece, menos eu, e me deparar com coisas assim, crônicas leves e que traduzem a gente melhor que a gente mesma; textos românticos modernos. e o melhor de tudo é descobrir que, ao contrário do que muitas nós pensam, há homens sensíveis, sim!, meninas!

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

família de quatro patas



É sempre uma festa particular quando chego em casa.

Na maioria das vezes já anoiteceu, e por isso meu pai fica cuidando. Mas ele se engana ao pensar que eu estou sozinha. Uma bolinha felpuda cor de caramelo, menos gordinho do que eu gostaria e mais brincalhão do que eu esperava, está sempre me esperando ansioso no portão. Ansioso por receber um carinho; por poder brincar e correr, nem que seja até eu atravessar o pátio e chegar à porta de casa; mas, ansioso, principalmente, por desobedecer as regras e ser um intruso na sala de estar, rolar no tapete e subir no sofá. No canto esquerdo, em cima da almofada azul. Sempre do mesmo jeito. Não preciso xingá-lo e mandá-lo para fora. Ou melhor, não consigo. Basta uma gargalhada e uma olhar para ele saltar de onde está e ir em direção a porta, com o rabinho abanando.

Podia contar aqui de quando eu trouxe ele pra casa, com uma gravata borboleta laranja maior que ele e dos olhares das pessoas para aquele filhote escandalosamente fofo. Ou de quando ele brincava com a coelha que, mesmo sendo duas vezes maior, morria de medo. Ou então daquela vez que ele caiu no chafariz enrolado nas plantas. Mas, sabe, a alegria de todos os dias do meu exemplar amigo de quatro patas já basta.

Ser dona de um cachorro é sensacional. Lealdade, companheirismo, reciprocidade, tudo aquilo que se vê em Marley & Eu e se percebe ainda melhor na leitura. Ser dono de um gato também deve ser o máximo. Independência, astúcia, graciosidade. E por que não falar dos peixes, dos coelhos e das tartarugas? Os periquitos amarelinhos que eu via na casa da minha avó com toda a certeza também eram adoráveis, mesmo que os visse quadriculados.

Cada animal de estimação, antes de dormir, poderia pensar "eu sou demais!". Eles estariam cobertos de razão. Mas, cá para nós, demais mesmo é poder aconchegar um bichinho no colo e saber que ele faz o mesmo conosco.

esse vídeo super amado é da rede de farmácias Panvel em homenagem ao Dia dos Animais, comemorado ontem.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

crônica de domingo.





"Chega, desisto! Já vi que hoje não vai dar" 

Clara percebeu que querer se concentrar na sua papelada, naquele momento, seria inútil. Há dias em que a cabeça pertence mais ao vento do que ao nosso próprio corpo. Pode insistir, brigar, relutar. Ela não vai ficar onde você quer. Vai voar, e para bem longe de onde você está. Vai te deixar estático por alguns minutos enquanto ela passeia com as estrelas, com as nuvens, com os pensamentos.

"Melhor tomar um banho; assim não perco tempo e refresco as ideias"

Subindo as escadas, olhou pela janela e sentiu uma textura diferente. O sol estava estava mais claro? Os pássaros estavam mais silenciosos? Ou eram as crianças? Só ouvia o vento batendo na janela, convidando-a para sair dali. 

"É apenas o domingo. Clima de domingo.. a gente sente pelo cheiro. E, falando em cheiro, acho que vai chover."


domingo, 23 de setembro de 2012

ao vencedor, as batatas


   "Ao vencedor, as batatas!"; eis o lema de Quincas Borba. Em 1886 Rubião foi criado por Machado de Assis como um professor simples de Barbacena, que de uma hora pra outra enriqueceu com a fortuna do amigo morto, lhe deixando ainda o cão amigo para cuidar (que também se chamava Quincas Borba) e a confusão dentro de si, não sabendo se deveria ficar triste ou contente com o ocorrido. Foi para o Rio de Janeiro usufruir de sua nova vida, porém o coração da pequena cidade de Minas permaneceu, ajudando a todos que simpatizava com boas quantias em dinheiro; ficou amigo de Palha, como se o conhecesse desde a infância! a mulher, Sofia, lhe dispensava olhares e delicadezas; Doutor Camacho jurou lhe fazer ministro, e não lhe faltava companhia para o almoço, muito menos convites para o jantar.  Os olhares da bela mulher o enfeitiçaram e, aos poucos, o amor não correspondido foi definhando o bom Rubião, da mesma forma que seu dinheiro foi se esgotando. A loucura veio, os amigos se foram.

 "Que será que lhes fiz? Não lembro de ter feito alguma coisa.. mas deve ter algo errado." pensava Rubião nos momentos de lucidez.

  Foi internado num sanatório por insistência de uma senhora bondosa, porém desconhecida, comovida com sua situação. Ficou sabendo que ele havia fugido da casa de saúde, e ninguém o encontrara, nem encontraria, pois havia voltado para Barbacena junto de Quincas Borba, que seguia o dono debaixo de chuva, morto de fome. Dias depois, pobre e louco, morreu abandonado. Quincas Borba fugiu a procura do dono que o deixara sozinho e foi encontrado morto três dias depois.

 Palha e Sofia, estavam cada vez mais ricos na capital. Não se lembravam mais da alma que os ajudou, e não sonhavam que era apenas isso que restara de Rubião.

Foi entrando no século XX que Machado de Assis escreveu essa história, e ainda hoje vejo um e outro Rubião pelas ruas, cercados por Palhas, Sofias e um mundo em que as batatas ficam com quem for mais esperto, ou menos humano.

De qualquer forma, ao vencedor, as batatas!



segunda-feira, 10 de setembro de 2012

ainda chove por aqui






Este final de semana tem sido atípico. Choveu tanto, mas tanto, que eu acho que ela levou consigo muito mais do que aquele abafamento dos últimos dias. Lavou lá fora e lavou aqui dentro também; essa agonia, esse sufoco que põe a gente pra baixo e só aflora nos dias de chuva.

O lá fora fica tão melancólico. Tão desafiador. A chuva me traz lembranças, algumas saudades, algumas vontades, e um sentimento muito profundo que, à noite, transborda. Nessas horas eu adoraria saber tocar violão. Esta é uma das coisas que está no topo da minha lista "O que fazer depois do vestibular": aprender a tocar violão. Sempre quis aprender; nunca me esforcei o bastante para tanto. Mas ele me pareceria perfeito para um final de semana chuvoso como o que passou. As cordas vibrando no ritmo do vento ao dedilhar uma daquelas canções que falam por si só, que expressam tudo aquilo que você gostaria de dizer. Sem pensar, instintivamente e, muito provavelmente, me veria chorando entre uma nota e outra. Sensibilidades que apenas a chuva traz. Lágrimas que rolam pelo rosto para acompanhar aquelas que brincam na janela. Minuciosas, vão desenhando sua forma por onde passam. Mudam de trajetória conforme o vento, vão parar na vidraça ao lado, na madeira ou na boca. Um gostinho levemente salgado. Salgado como o dia chuvoso, um dos poucos com cara de inverno de verdade.

Por enquanto, ficamos só eu e meu bom e velho Machado de Assis. Já é segunda-feira, e lá fora chove.

e na linda voz de Maria Gadú, essa música ainda mais linda

domingo, 2 de setembro de 2012

covardiamos.


    - A vida é uma merda. A gente gosta de quem não gosta da gente. E quem gosta da gente, a gente não gosta.

Quem nunca pensou isso que atire a primeira pedra. Essa foi a resposta de um amigo quando questionado por mim porque não ligara para a menina que ele saíra na noite anterior.

César não ligou porque não gostou da moça o suficiente para marcar um segundo encontro. Ela provavelmente esperou pelo retorno e ficou sem. Coisas da vida, um dia a gente sofre, no outro põe alguém a sofrer.

O gostar provoca diversas insatisfações e assim há sempre de ser. O amor tem mesmo dessas patifarias – muitas vezes separa o amante do objeto amado; e o objeto amado põe-se a amar um amante distinto que não necessariamente irá corresponder aos seus mais doces sentimentos.

De certa forma, isso pode ser bom. Não ter o amor correspondido significa que a pessoa sabe do seu interesse mas dele não compartilha. Mau é sentir amor e jamais saber qual seria a reação da pessoa se ela soubesse de tamanha estima. Cá entre nós, esse lema de que o que vale é a iniciativa é bobagem quando se trata de amor. No fundo, somos todos covardes que nos apaixonamos, guardamos e deixamos o tempo levar. Quem sabe assim a gente esqueça, o afeto passe e um novo amor apareça – dessa vez, já claramente apaixonado por nós e que nos poupe o esforço de dar o primeiro passo ou passar noites em claro a pensar sobre isso.

Frustra-se o humano ainda assim já que não é sempre que os amores que nos faltam o ar aparecem. daqueles que nos fazem pensar – eu poderia ficar a vida inteira com você. desde agora. e se soubesse. desde o começo.

e pelo silêncio eles se vão e passam distantes. são apenas vontades.

Covardes. Um bando deles.
Um monte de nós.

mais uma doçura de Às Claras.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

nunca morei em lugar pequeno.



Minha mãe sempre me disse que eu trouxe sorte pra ela e meu pai. Quando eu nasci, ao lado do apartamento que meus pais moravam tinham acabado de construir uma casa. Era enorme, um pátio grande e cheia de árvores. Minha mãe, de vez em quando, ficava parada na sacadinha olhando ora pra ela, ora pra mim.

Quando eu estava com seis meses a casa mudou de donos. Quem a tinha construído resolveu ir pra outro lugar e, veja só, meus pais passaram da sacadinha para a casa de tijolo a vista. E daqui ainda não saímos. Eu amo esse lugar, assim como amo lugares abertos. Deitar na grama nas noites de verão para olhar as estrelas é uma sensação maravilhosa. Poder colher as frutinhas do pé, poder saborear as jabuticabas gigantes que todo ano tem, os pêssegos, laranjas, amoras, ameixinhas e as bergamotas docinhas, docinhas; rolar na grama e se encher de micuim, crescer e descobrir que micuim na realidade não existe (sim, fique pasmo você também!); subir na árvore para fugir do seu cachorro que é maior do que você; poder brincar de amarelinha, pega-pega, esconde-esconde e muitas outras brincadeiras.

 É verdade que minha mãe inúmeras vezes já falou que, assim que possível, quer vender "isso daqui" e ir pra um apartamento. Sem pátio. Sem árvores. Sem cachorro. Só com concreto, vidros e paredes. Quando era criança dizia a ela que, quando crescesse, não ia deixar ela vender a casa porque eu trabalharia e teria dinheiro para mandar arrumar toda ela, do jeitinho que a mãe quisesse. Quem sabe um dia ainda consigo cumprir minha palava e deixar ainda mais bonito esse lugar tão doce e tão rico de infância e alegria que é pra mim.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Via Láctea



"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas".



Este poema é do livro "Via Láctea", de Olavo Bilac. Já a foto encontrei por acaso dois dias atrás, e sou sincera em dizer que, por um instante, voltei no tempo ao vê-la. Uns dez anos, mais ou menos.. eu na sacada de casa, olhando para o céu atenciosamente, procurando a segunda estrela a direita, a qual eu deveria seguir direto até amanhecer. Sim, o navio voando no céu me lembra a história de Peter Pan, minha favorita quando criança. Até hoje lembro de um pedaço da música do filme, era mais ou menos assim: 


" A linda estrela no céu, lá à direita diz: seus sonhos vou realizar e serás feliz... "

Era o próprio Peter Pan que me guiava. Ou eram as estrelas? Quem sabe?!

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

despertar.


Cinco e quinze da manhã o relógio desperta e você torce para que a hora esteja errada. Confere e calcula que, se dormir mais dez minutos, pode passar o rímel no ônibus. "mas vai borrar.. ah, não dá nada". Resolvido: mais dez minutos.

Cinco minutos passaram e você ainda não dormiu, preso por resquícios do sonho. O que era mesmo?
"que droga, não vou lembrar". Como é difícil lembrar do que passa pela mente enquanto dormimos e, quando lembramos, por que será que alguns são tão estranhos? E outros tão reais? Tão sufocantemente tentadores? Às vezes me preocupa a ideia de que o sonho é o prolongamento do pensamento.

Ainda deitada, passa pela cabeça todas as coisas que 24 horas exigem de você. As pessoas, as aulas, os livros, os cafés, as luzes. As preocupações, as cobranças, os objetivos. E os sonhos: os acordados e os dormidos.

Dez minutos.

O mundo lá fora já começou faz tempo, muito antes do seu celular despertar. Os passarinhos já cantam perto da janela e o cachorro insiste em mostrar aos gatos quem é o dono do pedaço. No centro, as buzinas, a fumaça, as pessoas - todos no devido lugar, no devido horário. O lirismo comedido, bem comportado; o lirismo funcionário público com livro de ponto expediente, protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor.


Já passaram quinze minutos e não tem mais jeito, hora de fechar os olhos e criar coragem. Os braços já afastam as cobertas e as pernas, no automático, começam a levar o corpo para cima. O edredom revirado, o travesseiro ainda quente. Tudo perfeitamente desorganizado. Tudo aconchegante, exceto o celular que insiste em gritar te lembrando que é hora de despertar.

e a imagem é daqui.

sábado, 4 de agosto de 2012

Eu quero mais



"Muito mais. Mais amor. Mais gente fina, elegante e sincera. 
Mais contas pagas. Mais unhas fortes. Mais bunda lisinha. Mais coxas firmes. 
Mais beijos na bochecha, na testa e na boca. Mais beijos de língua. Mais beijos de cinema. 
Mais gente que cuida da própria vida. Mais liquidação.

Mais bom dia, boa tarde e boa noite. Mais educação. Mais com licença, de nada, me desculpa, obrigada, por favor. 
Mais livros. E mais leitores. 
Mais cheirinho de casa limpa e roupa nova. Mais feriado. 
Mais dias de sol e vento no rosto. Mais outono e primavera. 
Mais namoro. Mais mãos dadas. Mais abraços acolhedores. 
Mais conforto. Mais carinho nas costas. Mais massagem nos pés.

Mais dinheiro achado no bolso da calça. Mais água de coco e espumante geladinhos. Mais Pringles e Doritos. 
Mais shampoo que deixa o cabelo brilhoso. Mais segurança. Mais ar-condicionado.
 Mais saúde para dar, vender e emprestar. Mais cama boa para deitar. Mais banhos de banheira com espuma. 
Mais rímel que não borra. Mais calça que não aperta. Mais sapato que não machuca.

Mais soninho depois do almoço. Mais pôr-do-sol. Mais lambida de cachorro. Mais conversa para resolver os problemas.
 Mais respeito de telemarketing. Mais respeito no trânsito. Mais respeito no condomínio. Mais respeito na fila do banco. Mais respeito. E ponto.

Mais amor ao falar. Mais paciência ao ouvir. Mais cautela ao lidar. Mais roupa bonita no closet. Mais amigos de verdade. Mais sorrisos de verdade. Mais amores de verdade. Mais verdade. E só.

Mais programa bom na televisão. Mais pessoas de boa índole. Mais atenção nas pequenas coisas. 
Mais decência ao se vestir. Mais silêncio no cinema. Mais condições em hospitais e escolas. 
Mais noção na cabeça de presidente, governador, prefeito, deputado e vereador. Mais gente ajudando pessoas e bichos. 
Mais punição para quem faz o mal. Mais chances para quem se mata de tanto trabalhar. Mais criança na escola. Mais pais conscientes. Mais gente que bebe e pega táxi.

Mais amor próprio. Porque antes de amar qualquer coisa ou pessoa você tem que amar você mesmo primeiro."

segunda-feira, 30 de julho de 2012

louça suja ou limpa?


Meia noite e meia, um Marília de Dirceu nas mãos, a chuva caindo do lado de fora; e eu aqui pensando na crônica que postei uns dias atrás e no que ela me fez pensar.

Desde pequenas nós, mulheres (principalmente), somos apresentadas ao amor renovador e intenso, que faz príncipes moverem montanhas por suas amadas princesas. Cá entre nós, as histórias de princesa, na realidade, nos preparam para um mundo que não existe mais. O "felizes para sempre", para o século XXI, deveria ser "se durar algum tempo, é lucro". O que isso tem a ver com a crônica? Muito simples: começar um relacionamento é fácil, difícil é ver envolvimentos reais, aqueles que chegam ao coração; ou ainda, começar um relacionamento que dure.

Hoje os pratos são descartáveis, iguais aos usados em festas de aniversário para servir o bolo: podem estar o quão sujos for possível que não fará a mínima diferença; quando a festa acabar, serão jogados fora. Não há mais preocupação em limpá-los. Os pratos de verdade ficam limpos, guardados e vacinados. Esses a gente não quer sujar. Dá muito trabalho, afinal, há mais coisas para se preocupar.

Enquanto não dá para ter um prato de gente grande, aperitivos enganam bem e dão um aspecto bonito ao prato; quem sabe um dia a sorte muda e vale a pena sujar toda a louça e bagunçar a pia. Cheia de restos, copos, taças, lembranças, vida e vontade de limpar tudo. E de sujar tudo de novo.

Se tem algo que me faz sorrir e sentir uma inveja branca é ver um casal na rua. Mas não qualquer casal, e sim aquele que divide os cabelos brancos, as rugas e as histórias. Os casais que souberam deixar o prato sempre cheio. É claro que, frequentemente, o prato cai, raxa, esvazia um pouco ou a gente enjoa da mesma porcelana. São em ocasiões como esta que entra um princípio usado na química, que diz: "na natureza nada se cria, nada se perde; tudo se transforma". A capacidade de consertar o que quebrou ao invés de simplesmente se desfazer.

Cometemos o erro de querer o prato cheio da forma como achamos melhor. Talvez por termos sido felizes durante o tempo em que ele esteve desta maneira, ou porque gostamos daquele "recheio". Não é porque uma coisa te fez bem que as outras não farão, ou o contrário; há tantas formas de se montar um jantar. Não podemos é ter medo de arriscar. De sujar os pratos e os talheres. E de lavar a louça e o coração depois, caso precise.

Quem sabe as histórias de princesa não estejam erradas?! Talvez nós que não saibamos mais como arrumar uma mesa de jantar, como escolher o cardápio, os convidados ou como organizar a nós mesmos.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

voltando à musica

Pode parecer estranho, mas não gosto do silêncio absoluto na hora de estudar. Estar em um lugar vazio e silencioso pode transmitir sensações diferentes, depende de como você está se sentindo: ficar com seus próprios pensamentos e em harmonia com o meio serve para refletir sobre a vida, sobre o presente e o futuro. O passado não entra na lista, afinal, perder tempo remoendo o que passou é o mesmo que correr em círculos: em qualquer das situações não se chega a lugar nenhum.
Por outro lado, há dias em que ficar sozinho no silêncio é sufocante. Assim como estar no meio de muita gente também pode ser. Quando eu estou fazendo minhas listas de exercícios parece que uma música de fundo me ajuda a pensar, pois fico mais leve e mais tranquila. É claro que um rock ou uma eletrônica não é indicado pra uma situação dessas.
Então, aí vai meu playlist de estudos (ao menos os que eu mais escuto!):

1. John Mayer

Where the light is (2008)


As músicas dele são maravilhosamente simples e lindas! In your atmosphere, Daughters e Free Fallin são algumas das minhas favoritas.

Born and Raised (2012)


O novo CD também é ótimo, e Queen of California é uma delícia de ouvir!

2. Jack Johnson

In between dreams (2005)


Surf music traz sempre aquela calmaria da brisa do mar, ainda mais na voz de Jack Johnson. O CD é antigo, mas é meu preferido! No other way, Banana Pancakes, Good People e Better Togheter são algumas das mais conhecidas e que estão no álbum. 
Pra quem gosta do artista, outra dica é o En Concert (2009), uma coletânea ao vivo de dois discos com seus sucessos. 


3. Pete Murray

See the sun (2005)


Até pouco tempo eu não conhecia o trabalho dele, mas escutei e gostei bastante! Opportunity, Better Days, Fly with you e Class A são as que mais gosto.



4.. Paul McCartney

Kisses on the Bottom (2012)


Clássico é uma boa definição para Paul McCartney. Um ícone que, ao meu ver, não decepcionou em seu novo álbum. O ex-beatle decidiu gravar músicas que ouvia quando era criança. É um pop/jazz agradabilíssimo de ouvir, incluindo The Glory of LoveOnly Our Hearts, My ValentineI’m Gonna Sit Right Down and Write Myself a Letter.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

amis



 
Não comemoro aqui o dia do amigo. Comemoro meus amigos. A diferença é sutil, mas há.

Pelos amigos de verdade a gente agradece sempre, mesmo discretamente. Ligar de madrugada, chegar de surpresa, ter na família do outro uma parte da sua, enfim, não são coisas que se faz com qualquer pessoa, mas sim com aquelas que confiamos, pois amizade se constrói devagarinho, depois de muitas lembranças compartilhadas. São jeitinhos irritantes, engraçados e espontâneos de dizer que não sabemos viver sem amigos.

Quando fui traduzir amigos para o francês, chamou minha atenção a semelhança com a palavra amor. Ta aí. Não podia haver semelhança mais oportuna, que se encaixasse tão bem.

Milan Kundera, escritor tcheco, escreveu em seu livro, "A Identidade", que a amizade é indispensável para o bom funcionamento da memória e para a integridade do próprio eu. Chama os amigos de testemunhas do passado e diz que eles são nosso espelho, que através deles podemos nos olhar. Vai além: diz que toda amizade é uma aliança contra a adversidade, aliança sem a qual o ser humano ficaria desarmado contra seus inimigos.

Um amigo não racha apenas a Coca-Cola: racha lembranças, crises de choro, experiências. Racha a culpa, racha segredos.

Um amigo não empresta apenas o sapato. Empresta o verbo, empresta o ombro, empresta o tempo, empresta o calor e a jaqueta.

Um amigo não recomenda apenas uma música. Recomenda cautela, recomenda um emprego, recomenda que sejas feliz.

Um amigo não dá carona apenas pra festa. Te leva pro mundo dele, e topa conhecer o teu.

Um amigo não passa apenas cola. Passa contigo um aperto, passa junto o reveillon.

Um amigo não caminha apenas no shopping. Anda em silêncio na dor, entra contigo em campo, sai do fracasso ao teu lado.

Um amigo não segura a barra, apenas. Segura a mão, a ausência, segura uma confissão, segura o tranco, o palavrão, segura o elevador.

Amizade a gente comemora sempre, mas, aproveitando a data especial, desejo aos meus que não comemoremos apenas hoje, mas todos os dias em que pudermos sentir que não estamos sós! Obrigada por enriquecerem minha vida e me manterem aquecida.

~ grande parte dessa minha dedicatória é mérito da genialidade de Martha Medeiros, encontrada no texto "Entre Amigos".

segunda-feira, 16 de julho de 2012

lembranças




Em 24h tantas coisas acontecem conosco, que às vezes lembrar o que comemos no café da manhã se torna um desafio. Imagine, então, chegar ao final de um ano, dois ou até três e tentar recordar o que te aconteceu nesse tempo, do que você foi e o que mudou. Particularmente, eu faço muito disso. Na minha memória tenho tudo guardado, mas fora dela uma caixinha me ajuda a mantê-la viva. Na verdade duas, porque uma já está transbordando.

Confesso que fazia algum tempo que eu não abria minha caixa de lembranças, camuflada como caixa de sapatos. Esse final de semana por acaso a encontrei dentro da gaveta de sempre. Adoro rever minhas bugingas, que, pra mim, são pedaços de pessoas e de momentos; pedaços de mim, dividos com o tempo. Muito mais do que rir das coisas que eu escrevia quando tinha dez ou onze anos, é bom ter um fragmento daqueles que passaram por mim, mesmo que não saibam que o deixaram comigo.

São lembranças de pessoas que entraram na minha vida há pouco tempo e de outras que já estão há uma vida comigo. De gente que uso o " pra sempre" sem medo da sua finitude e de outros que o "até logo" é mais distante do que parece. Desenhos que um dia vou mostrar pras minhas pequenas o que elas faziam pra mim, e tenho certeza que vou ter vontade de rir e de chorar quando isso acontecer.

São "bobagens", realmente. Mas, afinal, o que seria de nós sem as doses diárias de idiotice? Das risadas com as amigas, dos sonhos, da alegria que sentimos com as pequenas coisas; tudo isso contribuiu para o que somos. Nossos dias são feitos de pequenos desejos, brandas saudades e sorrisos sinceros que cada um deles nos traz. É como diz Martha Medeiros: bom mesmo é ser feliz por nada! Esse "nada", fica a critério de cada um. O meu, se resume muito a isso.


sexta-feira, 6 de julho de 2012

Começar um relacionamento



" A pia está limpa, a louça inteira lavada e o que vê é um cenário perfeito: sem sujeira, pratos, nada.
Começar um relacionamento é como usar a louça novamente e apoiá-la em cima de toda a pia. No começo, há o receio de bagunçar o espaço limpo. Foi tão difícil deixá-lo em ordem. Mas uma hora, tudo inicia-se da mesma forma. Primeiro apoia-se um copo. Depois uma xícara com a borra do café, bem devagar. Usa-se um prato, uma panela e alguns talheres. Na sequência, colheres, facas, garfos e quando se vê encontram-se pegadores de macarrão, de sorvete e espremedores de limão.

Aquela pia ali, limpa, já se faz cheia de coisas. Cheia de vida. Do vinho que acompanhou a massa, das bordas de pizza, dos petiscos que ainda estão doces, das cascas de limão usadas no mousse servido na sobremesa. Uma pilha. De expectativa, de medo, de tanta coisa que – se não der certo – precisará ser lavada novamente. Uma a uma. Até que se apaguem as marcas, a saudade, a falta de algo que já foi.

Os pratos. Resilientes como nós.
Resistentes até quando quebrarem.
Usa-se, lava-se e enxuga-se. No meio disso tudo, ama-se. E acumulam-se histórias por toda a parte, músicas, restaurantes, mensagens, beijos, nós. E os pratos. Que logo estão lá, enchendo a cozinha, lembrando que um dia já foram a melhor versão de nós mesmos. Panelas. Um punhado de metal, tefal e alumínio raspado várias e várias vezes até sair a casca e aparecer o fundo. Até terem toda a sua parte saudável arrancada pela esponja áspera –  que encaminha tudo o que não deu certo pelo ralo. Eu e você. Que já encontramos tantos ‘eu e você’ por aí e que insistimos e persistiremos até sujarmos cada taça, bowl e jarra que surgirem em todo o processo.


No final dessa brincadeira, estaremos lá, de luvas, fazendo espuma com tudo. Escorrendo os copos, as lágrimas, as canecas que um dia já carregaram leite, sucrilhos e sopa. Passando a mão nas beiradas da pia para tirar o excesso de água, de expectativa e memórias. De você.

No dia seguinte, o primeiro copo do dia. O gole do início, uma nova história pronta para começar. Uma repetição que a gente já conhece. Tudo igual. E por que sujar pratos que já foram limpos e curados? Por que amar quando já se foi amado? Detonado, surrado. Cansado.

Talvez, eu penso, porque já fomos felizes, emocionados e todos os adjetivos que nos transformam em buscadores oficiais da repetição. Daquilo que já vivemos. Queremos relembrar. Como é mesmo a sensação de usar pratos novos, limpos? De percorrer um caminho em que pisa-se com cuidado até se chegar no ápice da satisfação e de momentos que, de tão fascinantes, nos fazem esquecer da bagunça que irá se empilhar no dia seguinte. Quero a bagunça.

E é mesmo assim. Curioso.
Um processo exaustivo que – no meio de tanta coisa, eventos, casualidades e pessoas – nos mostra que a gente sempre consegue lavar tudo o quê sobrou e começar de novo.
"

~ uma definição: leve! assim como a grande maioria das outras crônicas, que você pode conferir aqui.

sábado, 30 de junho de 2012

Alohomora

Lumus!
(Juro solenemente não fazer nada de bom)






"Os Srs. Aluado, Rabicho, Almofadinha e Pontas,
fornecedores de recursos para feiticeiros malfeitores,
têm a honra de apresentar
O MAPA DO MAROTO"

No início ninguém imaginava a dimensão que isso tomaria; eu mesma posso dizer que não apaixonei-me à primeira vista. Mas o fascínio e o amor por esta série épica pode ser explicado pela palavra mais familiar, e talvez irônica, que eu posso pensar: magia. O encanto do menino que sobrevieu, da trouxa inteligente e do ruivo mais adorado de todos os tempos, que prendem olhos e corações há exatos 15 anos.

Corações que sonharam em receber uma coruja na janela de casa com sua carta de admissão em Hogwarts; em ir ao Olivaras para que sua varinha o escolhesse; que verificaram bem se seu carro não tinha nenhum botão que o fizesse voar, assim como a vassoura guardada no armário; que sorriram com os gêmeos Weasley, odiaram Umbridge mais que tudo, choraram na morte de Dobby e Fred, e foram aos dois extremos com Severo Snape.

"Todos nós tivemos professores de que gostávamos e de que não gostávamos, os Snapes, os Dumbledores e as McGonagalls. Todos fomos ou conhecemos Hermione, Rony ou Harry. Como o cenário era tão familiar e os personagens eram, se não familiares, pessoas com quem poderíamos nos identificar, deixou de ser algo sobrenatural e fantástico e pareceu ser possível, se é que isso faz algum sentido".

Precisaria de um blog inteiro para dizer o que J.K. Rowling fez por mim: foi muito mais que lançar uma saga, foi encontrar um paraíso de sonhos, um legítimo accio. Imaginar um lugar tão doce quanto Hogsmeade, ou tão acolhedor quanto a Toca, faz com que olhemos com outros olhos para nossa própria realidade. Amizades verdadeiras não existem apenas do outro lado da plataforma 9³/4 mas, assim como as desse lado, esse trio e toda a Armada permanecerão em minha memória eternamente.

O fim não foi um Avada Kedavra. Em questão de segundos, uma década inteira voltará às nossas cabeças e perceberemos que ou o tempo passa muito rápido ou nós é que ainda não estamos prontos para dar adeus àquilo que modificou bastante coisa. É engraçado, mas ainda assim aceitável, que muitos dos que não compartilham disso não entendam. 

A todos os potterianos, que os próximos 15 anos sejam igualmente comemorados, e tenho a certeza de que essa magnífica história não será esquecida.

Nox! 
(Malfeito feito)





quarta-feira, 13 de junho de 2012

Fernando Pessoa(s), o legado

 Fernando Pessoa, por Harold Bloom: "sua obra é um legado da língua portuguesa ao mundo".
O que faço aqui não é uma homenagem a esse excepcional poeta.. na realidade, é ele que nos homenageia toda vez que lemos seus versos. O que faço aqui é apenas compartilhar uma parcela de sua grandiosidade.

" Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não atem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: “Fui eu?”
Deus sabe, porque o escreveu."

 "Aquilo que a gente lembra
Sem o querer lembrar,
E inerte se desmembra
Como um fumo no ar,
É a música que a alma tem,
É o perfume que vem,
Vago, inútil, trazido
Por uma brisa de agrado,
Do fundo do que é esquecido,
Dos jardins do passado
Aquilo que a gente sonha
Sem saber de sonhar,
Aquela boca risonha
Que nunca nos quis beijar,
Aquela vaga ironia
Que uns olhos tiveram um dia
Para a nossa emoção —
Tudo isso nos dá o agrado,
Flores que flores são
Nos jardins do passado
Não sei o que fiz da vida,
Nem o quero saber
Se a tenho por perdida,
Sei eu o que é perder?
Mas tudo é música se há
Alma onde a alma está,
E há um vago, suave, sono,
Um sonho morno de agrado,
Quando regresso, dono,
Aos jardins do passado."

''Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres. 

Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperença a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo! 

Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa 
Antes que tudo em tudo se transforme.''

"A vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes. O que vemos não é o que vemos, senão o que somos."

"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."

"Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos de realmente nosso, de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso."

"O valor das coisas não está no tempo em que duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis."

"Tudo Vale à pena se a alma não é pequena."

~ recomendo este site, para quem quiser conhecer novos autores e reconhecer os antigos.


le jour du mythe

Hoje, dia 13 de junho, Fernando Pessoa estaria completando 124 anos de vida, ou melhor, de poesia.
"124 anos de letras e versos, de um vigor que prova-se mais forte, dia a dia, herança da última flor do Lácio."

"Por qualquer motivo temperamental que me não proponho analisar, nem importa que analise, construí dentro de mim várias personagens distintas entre si e de mim, personagens essas a que atribuí poemas vários que não são como eu, nos meus sentimentos e idéias, os escreveria.
Assim têm estes poemas de Caeiro, os de Ricardo Reis e os de Álvaro de Campos que ser considerados. Não há que buscar em quaisquer deles idéias ou sentimentos meus, pois muitos deles exprimem idéias que não aceito, sentimentos que nunca tive. Há simplesmente que os ler como estão, que é aliás como se deve ler."
Fernando Pessoa


Ao eterno Fernando Pessoa e suas almas… Parabéns. 

 

quinta-feira, 7 de junho de 2012

uma criança no olhar

Só eu sei a dó que eu sinto quando minha irmãzinha, que mora comigo, diz que sente saudades de mim. Eu queria tanto poder aproveitar melhor meu tempo com ela, porque ela está crescendo muito rápido! Gosto de contar a ela do dia em que minha mãe voltou com a nenem do hospital - da minha ansiedade para vê-la e minha surpresa ao ver o quão pequena ela era. Já perdi as contas da vezes que me pego olhando pra ela e peço para que pare de crescer, já está bom assim. Ela me olha com uma carinha de pena e diz: "Se eu pudesse eu não cresceria".

Fisicamente eu sei que não há nada para ser feito. É nosso processo natural da vida. Contudo, mais triste do que envelhecer na pele, é envelhecer na alma. As pessoas sentem-se melhores com uma cara fechada do que com um sorriso; sendo ríspidas do que agradáveis, e não percebem que estão matando algo lindo e fundamental, que todos deveriam manter um pouco dentro de si. Se abandonarmos aquela visão unilateral e mesquinha que nos cerca, e olharmos para trás, perceberiamos o quão doce é o olhar de uma criança. A forma com que brinca, com que chora, com que escuta tudo com muito cuidado e absorve, sem perceber, aquilo que a trasnformará no futuro: é tudo muito natural! Uma naturalidade que consegue alegrar qualquer ambiente apenas estando ali, que se percebe pelo olhar.

Ah, não é a toa que os olhos são conhecidos como a janela da alma - eles dizem tudo, sem dizer nada. Mas nós não paramos para notar isso; não há tempo para ser nostálgico. O relógio voa, e a vida também - não há espaço para a meiguice da infância, nem para as pessoas, nem para os olhos. Viraram gelo, não transmitem nada além do óbvio. É uma pena.. se o contrário ao hoje triunfasse, seria um atalho para a felicidade. Espero que minha maninha não perca isso, e nem eu.

“Grande é aquele que não perdeu a candura da infância”



sábado, 26 de maio de 2012

creativity: level awesome

Sabe aquele "cheirinho" de infância? As histórias em que os bichos falam e os objetos ganham vida? Então, essa é uma forma doce de explicar o Bent Objects: um projeto de Terry Border que usa e abusa da nossa capacidade criativa, transformando simples objetos em elementos com vida. Utilizando comidas, doces, caixas e pedaços de arame, Terry cria suas obras de arte - um trabalho incrível e extremamente criativo.

O site oficial do projeto é o Bent Objects e o portifólio dele pode ser visto aqui.
Foi difícil selecionar essas imagens para amostra - tem muita coisa interessante!





 















segunda-feira, 14 de maio de 2012

breathe - oops, listen!

Adoro quando as pessoas falam comigo sobre o blog. Não sei, me sinto querida e feliz por saber que tem alguém utilizando do seu tempo para ler as coisas que eu escrevo. E mais: gostam disso! Sinceramente, é muito bom!
A última dica que recebi gostei mais ainda: começar a falar sobre música. É muito clichê falar isso, mas, como foi que eu não tive essa ideia antes? Afinal, eu não sei viver sem música. Posso ficar sem sair, sem ver meus amigos durante uma semana.. mas não tem um dia que eu não tire um tempinho pra escutar minhas músicas. Para cada um dos posts antigos eu poderia relacionar uma música, porque cada momento merece uma trilha sonora. O que seria do Titanic sem "My heart will go on" e Celine Dion? Darth Vader sem a "Imperial March", que dá um arrepio na espinha quando toca ? Ou Madagascar sem a divertidíssima"I like to move it"? Convenhamos, não teria a mesma graça.
A melhor definição para essa arte ouvi no filme It's Kind of a Funny Story, ou, no bom e velho português, Se enlouquecer não se apaixone, quando o mocinho Craig, sem saber como chamar sua amiga para sair, pergunta: 
-"Você gosta de música?"
-"Você gosta de respirar?". 
(...)
é, nada mais a declarar.

P.S. Como eu disse, ficar sem música é algo que não existe. As minhas "top 20", no quesito mais ouvidas ultimamente, são essas:
1- No Other Way - Jack Johnson
2- These Days - Foo Fighters
3 - The Sun - Maroon Five
4 - Set Fire to the Rain - Adele
5 - Seaside - The Kooks
6 - Hold On - Jet
7 - Feel so Close - Calvin Harris
8- Someday - The Strokes
9- Otherside - RHCP
10- Free Fallin - John Mayer
11- (If You are Wondering if) I want you to - Weezer
12- Everlong - Foo Fighters
13- Tick of Time - The Kooks
14 - Resposta - Skank
15-  I won't give up - Jason Mraz
16- Speed of Sound - Coldplay
17- I miss you - Blink 182
18- Turn me on - David Guetta ft. Nicki Minaj
19- Glad you Came - The Wanted
20- Amor de Índio - Maria Gadú

Novamente, obrigada João - adorei a ideia, Dr!