sábado, 30 de junho de 2012

Alohomora

Lumus!
(Juro solenemente não fazer nada de bom)






"Os Srs. Aluado, Rabicho, Almofadinha e Pontas,
fornecedores de recursos para feiticeiros malfeitores,
têm a honra de apresentar
O MAPA DO MAROTO"

No início ninguém imaginava a dimensão que isso tomaria; eu mesma posso dizer que não apaixonei-me à primeira vista. Mas o fascínio e o amor por esta série épica pode ser explicado pela palavra mais familiar, e talvez irônica, que eu posso pensar: magia. O encanto do menino que sobrevieu, da trouxa inteligente e do ruivo mais adorado de todos os tempos, que prendem olhos e corações há exatos 15 anos.

Corações que sonharam em receber uma coruja na janela de casa com sua carta de admissão em Hogwarts; em ir ao Olivaras para que sua varinha o escolhesse; que verificaram bem se seu carro não tinha nenhum botão que o fizesse voar, assim como a vassoura guardada no armário; que sorriram com os gêmeos Weasley, odiaram Umbridge mais que tudo, choraram na morte de Dobby e Fred, e foram aos dois extremos com Severo Snape.

"Todos nós tivemos professores de que gostávamos e de que não gostávamos, os Snapes, os Dumbledores e as McGonagalls. Todos fomos ou conhecemos Hermione, Rony ou Harry. Como o cenário era tão familiar e os personagens eram, se não familiares, pessoas com quem poderíamos nos identificar, deixou de ser algo sobrenatural e fantástico e pareceu ser possível, se é que isso faz algum sentido".

Precisaria de um blog inteiro para dizer o que J.K. Rowling fez por mim: foi muito mais que lançar uma saga, foi encontrar um paraíso de sonhos, um legítimo accio. Imaginar um lugar tão doce quanto Hogsmeade, ou tão acolhedor quanto a Toca, faz com que olhemos com outros olhos para nossa própria realidade. Amizades verdadeiras não existem apenas do outro lado da plataforma 9³/4 mas, assim como as desse lado, esse trio e toda a Armada permanecerão em minha memória eternamente.

O fim não foi um Avada Kedavra. Em questão de segundos, uma década inteira voltará às nossas cabeças e perceberemos que ou o tempo passa muito rápido ou nós é que ainda não estamos prontos para dar adeus àquilo que modificou bastante coisa. É engraçado, mas ainda assim aceitável, que muitos dos que não compartilham disso não entendam. 

A todos os potterianos, que os próximos 15 anos sejam igualmente comemorados, e tenho a certeza de que essa magnífica história não será esquecida.

Nox! 
(Malfeito feito)





quarta-feira, 13 de junho de 2012

Fernando Pessoa(s), o legado

 Fernando Pessoa, por Harold Bloom: "sua obra é um legado da língua portuguesa ao mundo".
O que faço aqui não é uma homenagem a esse excepcional poeta.. na realidade, é ele que nos homenageia toda vez que lemos seus versos. O que faço aqui é apenas compartilhar uma parcela de sua grandiosidade.

" Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não atem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: “Fui eu?”
Deus sabe, porque o escreveu."

 "Aquilo que a gente lembra
Sem o querer lembrar,
E inerte se desmembra
Como um fumo no ar,
É a música que a alma tem,
É o perfume que vem,
Vago, inútil, trazido
Por uma brisa de agrado,
Do fundo do que é esquecido,
Dos jardins do passado
Aquilo que a gente sonha
Sem saber de sonhar,
Aquela boca risonha
Que nunca nos quis beijar,
Aquela vaga ironia
Que uns olhos tiveram um dia
Para a nossa emoção —
Tudo isso nos dá o agrado,
Flores que flores são
Nos jardins do passado
Não sei o que fiz da vida,
Nem o quero saber
Se a tenho por perdida,
Sei eu o que é perder?
Mas tudo é música se há
Alma onde a alma está,
E há um vago, suave, sono,
Um sonho morno de agrado,
Quando regresso, dono,
Aos jardins do passado."

''Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres. 

Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperença a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo! 

Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa 
Antes que tudo em tudo se transforme.''

"A vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes. O que vemos não é o que vemos, senão o que somos."

"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."

"Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos de realmente nosso, de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso."

"O valor das coisas não está no tempo em que duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis."

"Tudo Vale à pena se a alma não é pequena."

~ recomendo este site, para quem quiser conhecer novos autores e reconhecer os antigos.


le jour du mythe

Hoje, dia 13 de junho, Fernando Pessoa estaria completando 124 anos de vida, ou melhor, de poesia.
"124 anos de letras e versos, de um vigor que prova-se mais forte, dia a dia, herança da última flor do Lácio."

"Por qualquer motivo temperamental que me não proponho analisar, nem importa que analise, construí dentro de mim várias personagens distintas entre si e de mim, personagens essas a que atribuí poemas vários que não são como eu, nos meus sentimentos e idéias, os escreveria.
Assim têm estes poemas de Caeiro, os de Ricardo Reis e os de Álvaro de Campos que ser considerados. Não há que buscar em quaisquer deles idéias ou sentimentos meus, pois muitos deles exprimem idéias que não aceito, sentimentos que nunca tive. Há simplesmente que os ler como estão, que é aliás como se deve ler."
Fernando Pessoa


Ao eterno Fernando Pessoa e suas almas… Parabéns. 

 

quinta-feira, 7 de junho de 2012

uma criança no olhar

Só eu sei a dó que eu sinto quando minha irmãzinha, que mora comigo, diz que sente saudades de mim. Eu queria tanto poder aproveitar melhor meu tempo com ela, porque ela está crescendo muito rápido! Gosto de contar a ela do dia em que minha mãe voltou com a nenem do hospital - da minha ansiedade para vê-la e minha surpresa ao ver o quão pequena ela era. Já perdi as contas da vezes que me pego olhando pra ela e peço para que pare de crescer, já está bom assim. Ela me olha com uma carinha de pena e diz: "Se eu pudesse eu não cresceria".

Fisicamente eu sei que não há nada para ser feito. É nosso processo natural da vida. Contudo, mais triste do que envelhecer na pele, é envelhecer na alma. As pessoas sentem-se melhores com uma cara fechada do que com um sorriso; sendo ríspidas do que agradáveis, e não percebem que estão matando algo lindo e fundamental, que todos deveriam manter um pouco dentro de si. Se abandonarmos aquela visão unilateral e mesquinha que nos cerca, e olharmos para trás, perceberiamos o quão doce é o olhar de uma criança. A forma com que brinca, com que chora, com que escuta tudo com muito cuidado e absorve, sem perceber, aquilo que a trasnformará no futuro: é tudo muito natural! Uma naturalidade que consegue alegrar qualquer ambiente apenas estando ali, que se percebe pelo olhar.

Ah, não é a toa que os olhos são conhecidos como a janela da alma - eles dizem tudo, sem dizer nada. Mas nós não paramos para notar isso; não há tempo para ser nostálgico. O relógio voa, e a vida também - não há espaço para a meiguice da infância, nem para as pessoas, nem para os olhos. Viraram gelo, não transmitem nada além do óbvio. É uma pena.. se o contrário ao hoje triunfasse, seria um atalho para a felicidade. Espero que minha maninha não perca isso, e nem eu.

“Grande é aquele que não perdeu a candura da infância”