domingo, 27 de janeiro de 2013

o sofrimento de um domingo


- "Não há como evitar o fato de que o sofrimento faz parte da vida. No dia do nosso aniversário, as pessoas costumam dizer “Feliz Aniversário”, quando na realidade o dia do nosso nascimento foi o dia do nascimento do sofrimento. Só que ninguém diz “Feliz dia-do-nascimento-do-sofrimento!”.

Dalai Lama parte do princípio de que começamos a sofrer a partir do momento em que nascemos. Começamos sonhos, perdemos os mesmos, choramos, queremos, padecemos por antecipação. Criamos amor, buscamos conquistas, construímos famílias e as vemos se dissolver. Sofremos com a morte. Estamos morrendo.

E as pessoas pedem que Deus as ajude, que os amigos sejam reconfortados, que o céu as receba em paz. E morremos com elas. Porque depois da morte, só existe ela mesma. Não há conforto ou quem nos aconselhe. Apenas Dalai Lama dizendo que a vida é sofrimento, e que todos os dias permanecemos com ele. Eu não tinha amigos nessa tragédia, não conheço nenhum desses jovens que faleceram. Mas compartilho dos seus sonhos. Sei que eles queriam acordar amanhã de manhã e tomar um café quente. E aprender uma coisa nova. E abraçar seus pais. Sei também que eles faziam muitos planos. E queriam viajar. E sentir o coração novamente se apaixonar. Eles são eu e vocês. Que queremos continuar conhecendo, e participando, e dando risadas.

O sofrimento não nos deixa mais fortes, já disse meu pai. Ele nos torna mais frágeis. Mas talvez mais sensíveis. E a sensibilidade nesse sentido deve colaborar para uma vida, enquanto houver, com mais profundidade. O Rio Grande está com o céu azul, mas o sol não brilha com a mesma intensidade. A casa está nublada hoje. Com uma garoa numerosa. Triste. Eu não consigo não pensar no “se”. E se fosse eu? E se fossem meus amigos, minhas irmãs, meus vizinhos, meus colegas? Eu me sinto triste. E no ápice da sensibilidade. Porque a morte sempre vem me dizer que ainda vivemos. E que hoje deve ser o mais absoluto dia de sentir.


A vida é indigesta né? Mas sabe que é bom a gente lembrar dessa indigestão para parar de comer a vida com tanta culpa. Com tanta cautela em nos expor, expor nossos sentimentos, angústias e vontades. Nada é tão sério. Nada é tão concreto quanto parece. De que cada um tem uma história, e uma justificativa também. A gente passa tanto tempo se comparando, se avaliando, preocupado em mostrar os números de rendimento quando isso é pouco significativo dentro de um mundo em que tudo é natureza e foge do controle.


Tenho certeza que a fumaça escura que cegou aqueles que estavam na boate em Santa Maria, na madrugada deste domingo, 27, hoje paira pelos corações não só dos gaúchos, mas de todos os brasileiros.


Sofremos. O sofrimento faz parte da vida. E Dalai Lama afirma que com isso, acredito eu, não precisamos imaginar que a felicidade irá chegar quando acabarmos de sofrer porque isso nunca vai acontecer. E nem mesmo ficarmos ansiosos procurando uma felicidade lá do futuro, de um momento que ainda não aconteceu porque isso é o que nós temos. A tarde de hoje.

*com exceção de alguns ajustes meus, os fragmentos de texto são méritos do Às Claras

domingo, 20 de janeiro de 2013

O muro na frente do meu prédio




Não, eu não me mudei. Continuo morando na mesma casa de tijolo à vista de sempre.

Esse muro fica na frente da escola Dohms, na capital, e onde eu passei quatro dias fazendo prova. Chegava todos os dias com meia hora de antecedência e, após a prova, ficava mais ou menos esse tempo esperando meu primo vencer o trânsito digno de uma cidade grande. Nesse meio tempo, as cores me chamaram a atenção e, depois que vi a citação de Ana Terra bem no alto, fiquei encantada.

É incrível como o grafite dá um outro tom pra paisagem. No meio daquela multidão de vestibulandos, as cores expressavam todo o misto de sentimentos dentro de cada um.

Tô longe de ser uma fotógrafa, mas, tá valendo a intenção :)