domingo, 28 de outubro de 2012

assim que dezembro acabar



" Ta na hora de sair desse papel de narradora e virar protagonista, menina.
   Se não a vida ó - voa, voa, voa.
   E tu vai estar tão superficial... "

Essa foi a bronca de um amigo, inconformado com a minha passividade frente às coisas comuns da vida. Sabe, sair pra uma festa, sair sem rumo, encher a cara, quebrar a cara, essas coisas.

Tenho estado ansiosa. Correndo dentro de mim mesma.
Querendo ser apenas uma borboleta. Porque ela voa.

Essa vontade de ter tudo sob controle não combina com a leveza da minha borboleta.
Ela voa com o coração batendo. O meu está correndo.
Latejando como um furacão.
Um órgão cheio de ar, que de tanta vontade de respirar, às vezes para.

Só os conformados passam ilesos pelo fim do ano. Pelo vaivém que preenche a cabeça -avaliando tudo. Pela vontade de mudar os dadinhos, o dominó, o jogo de palitos.

Nunca passo um fim de ano da mesma forma que entrei. Ele sempre me transforma, transtorna, puxa meu coração e o faz parar. Porque eu não me conformo. Eu sinto.

Essa semana foi o ápice do meu cansaço. Como diz minha mãe, uma hora o corpo tem que reclamar. E até que demorou. A gente vive reclamando da rotina, do ônibus, do café e do cabelo. Mas, sabe, não é por mal. Não é uma reclamação para ser levada a sério, que devam dar ouvidos e intervir. É só pra falar alguma coisa, extravasar de alguma maneira. No fundo, eu gosto muito de tudo isso.

Eu acredito piamente na sabedoria de Fernando Pessoa: "que tudo vale a pena quando a alma não é pequena". Depois de ver os desejos tomando forma, voando longe com a imaginação, eu só posso desejar que o nosso coração continue parando a cada fim de ano. Para que eu nunca me esqueça de que preciso continuar fazendo-o bater. De que preciso me manter inconformada, resistente, me lembrando de que o mundo são mais pessoas e menos coisas, mais momentos criativos e menos trabalho burocrático.

De que a gente não precisa seguir o que todo mundo faz.

Assim que dezembro acabar, eu quero ser borboleta.


quinta-feira, 11 de outubro de 2012

ela não quer alguém pra dividir o brownie



Ela é solteira. Não sozinha. Ela pinta as unhas de vermelho quando quer. Mas, também, sabe deixar as unhas em cacos quando dá vontade. Esbanja esquisitices ao falar dos seriados prediletos. E se cala quando o assunto é sobre o porquê dela não ter namorado.


Ela usa vestido de tricô, daqueles clichês para tomar chá quando o tempo é frio. E bebe cervejas em canecas, como homens pré-históricos. Ela ri de palavrões e de piadas de humor negro. Mas, também, se derrete mais do que picolé em frigideira quando recebe um SMS romântico de madrugada. Mas por que não namora?

Ela acorda, escova os dentes de quem já usou aparelho, toma chocolate quente, se arruma e vai trabalhar. Prefere usar preto. Mas desbanca qualquer havaiana bonita quando inova em alguma vestimenta cheia de flores coloridas. Ela é linda e desconversa. Fala do tempo, do futebol, da novela, da mãe, da crise do Paraguai e do Joseph Gordon-Levitt. Mas por que tu não namoras?


Quando o assunto é sexo, ela fala menos do que escuta. Escuta com os ouvidos, com os olhos, com a boca e com os pêlos da coxa. Transa menos do que deseja. E sabe esconder alguma aspirante a Sônia Braga dentro daquele decote comportado. Ela curte os Beatles, os Novos Baianos, Caetano e o Cícero. E fala que eu tenho péssimo tom de voz. Lê Caio, Keroauc, Fante e Gabito. Mas diz que, também, gosta das minhas histórias.

É estranha, também. Assumo. Corta o cabelo de acordo com as fases da lua e gosta de comer macarrão com feijão. Gosta de umas bandas que ninguém conhece e chora com as histórias do Nicholas Sparks. Liga o ar condicionado porque gosta de dormir sentindo frio e acaba repousando feito uma esquimó com meias e edredom. Uma linda esquimó, por sinal. Não sabe usar o celular. Costuma atender as ligações somente após a quarta tentativa de chamada. Não, ela não ignora. Ela perde tempo é procurando o celular na bolsa, debaixo da cama ou na pia do banheiro. Mas, vez em quando, ela sabe ignorar também. Não sabe dançar. Recusa os convites, mas adora ser convidada. Odeia batom e gosta de brincos de pena.


Mas por que ninguém conseguiu ultrapassar esse muro de Berlim que você ergueu no teu peito? Ela desconversa. Ri de canto de boca e me pergunta se eu fumo tentando desviar o assunto pra longe. Eu insisto. Falo coisas demodês e jogo no ar o fato de que eu a acho perfeita. Ela empina o nariz o fino, me lança teus olhos verdes escuro e ajeita-se sobre a mesa. Muda o tom e me fala: “Porque eu não quero”. E eu rio sem graça da minha maldita ideia de achar que todo mundo quer ter alguém para dividir os brownies.

 eu adoro encontrar blogs que todo mundo conhece, menos eu, e me deparar com coisas assim, crônicas leves e que traduzem a gente melhor que a gente mesma; textos românticos modernos. e o melhor de tudo é descobrir que, ao contrário do que muitas nós pensam, há homens sensíveis, sim!, meninas!

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

família de quatro patas



É sempre uma festa particular quando chego em casa.

Na maioria das vezes já anoiteceu, e por isso meu pai fica cuidando. Mas ele se engana ao pensar que eu estou sozinha. Uma bolinha felpuda cor de caramelo, menos gordinho do que eu gostaria e mais brincalhão do que eu esperava, está sempre me esperando ansioso no portão. Ansioso por receber um carinho; por poder brincar e correr, nem que seja até eu atravessar o pátio e chegar à porta de casa; mas, ansioso, principalmente, por desobedecer as regras e ser um intruso na sala de estar, rolar no tapete e subir no sofá. No canto esquerdo, em cima da almofada azul. Sempre do mesmo jeito. Não preciso xingá-lo e mandá-lo para fora. Ou melhor, não consigo. Basta uma gargalhada e uma olhar para ele saltar de onde está e ir em direção a porta, com o rabinho abanando.

Podia contar aqui de quando eu trouxe ele pra casa, com uma gravata borboleta laranja maior que ele e dos olhares das pessoas para aquele filhote escandalosamente fofo. Ou de quando ele brincava com a coelha que, mesmo sendo duas vezes maior, morria de medo. Ou então daquela vez que ele caiu no chafariz enrolado nas plantas. Mas, sabe, a alegria de todos os dias do meu exemplar amigo de quatro patas já basta.

Ser dona de um cachorro é sensacional. Lealdade, companheirismo, reciprocidade, tudo aquilo que se vê em Marley & Eu e se percebe ainda melhor na leitura. Ser dono de um gato também deve ser o máximo. Independência, astúcia, graciosidade. E por que não falar dos peixes, dos coelhos e das tartarugas? Os periquitos amarelinhos que eu via na casa da minha avó com toda a certeza também eram adoráveis, mesmo que os visse quadriculados.

Cada animal de estimação, antes de dormir, poderia pensar "eu sou demais!". Eles estariam cobertos de razão. Mas, cá para nós, demais mesmo é poder aconchegar um bichinho no colo e saber que ele faz o mesmo conosco.

esse vídeo super amado é da rede de farmácias Panvel em homenagem ao Dia dos Animais, comemorado ontem.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

crônica de domingo.





"Chega, desisto! Já vi que hoje não vai dar" 

Clara percebeu que querer se concentrar na sua papelada, naquele momento, seria inútil. Há dias em que a cabeça pertence mais ao vento do que ao nosso próprio corpo. Pode insistir, brigar, relutar. Ela não vai ficar onde você quer. Vai voar, e para bem longe de onde você está. Vai te deixar estático por alguns minutos enquanto ela passeia com as estrelas, com as nuvens, com os pensamentos.

"Melhor tomar um banho; assim não perco tempo e refresco as ideias"

Subindo as escadas, olhou pela janela e sentiu uma textura diferente. O sol estava estava mais claro? Os pássaros estavam mais silenciosos? Ou eram as crianças? Só ouvia o vento batendo na janela, convidando-a para sair dali. 

"É apenas o domingo. Clima de domingo.. a gente sente pelo cheiro. E, falando em cheiro, acho que vai chover."