" A pia está limpa, a louça inteira lavada e o que vê é um cenário perfeito: sem sujeira, pratos, nada.
Começar um relacionamento é como usar a louça novamente e apoiá-la em
cima de toda a pia. No começo, há o receio de bagunçar o espaço limpo.
Foi tão difícil deixá-lo em ordem. Mas uma hora, tudo inicia-se da mesma
forma. Primeiro apoia-se um copo. Depois uma xícara com a borra do
café, bem devagar. Usa-se um prato, uma panela e alguns talheres. Na
sequência, colheres, facas, garfos e quando se vê encontram-se pegadores
de macarrão, de sorvete e espremedores de limão.
Aquela pia ali, limpa, já se faz cheia de coisas. Cheia de vida. Do
vinho que acompanhou a massa, das bordas de pizza, dos petiscos que
ainda estão doces, das cascas de limão usadas no mousse servido na
sobremesa. Uma pilha. De expectativa, de medo, de tanta coisa que – se
não der certo – precisará ser lavada novamente. Uma a uma. Até que se
apaguem as marcas, a saudade, a falta de algo que já foi.
Os pratos. Resilientes como nós.
Resistentes até quando quebrarem.
Usa-se, lava-se e enxuga-se. No meio disso tudo, ama-se. E acumulam-se histórias por toda a parte, músicas, restaurantes, mensagens, beijos, nós. E os pratos. Que logo estão lá, enchendo a cozinha, lembrando que um dia já foram a melhor versão de nós mesmos. Panelas. Um punhado de metal, tefal e alumínio raspado várias e várias vezes até sair a casca e aparecer o fundo. Até terem toda a sua parte saudável arrancada pela esponja áspera – que encaminha tudo o que não deu certo pelo ralo. Eu e você. Que já encontramos tantos ‘eu e você’ por aí e que insistimos e persistiremos até sujarmos cada taça, bowl e jarra que surgirem em todo o processo.
Resistentes até quando quebrarem.
Usa-se, lava-se e enxuga-se. No meio disso tudo, ama-se. E acumulam-se histórias por toda a parte, músicas, restaurantes, mensagens, beijos, nós. E os pratos. Que logo estão lá, enchendo a cozinha, lembrando que um dia já foram a melhor versão de nós mesmos. Panelas. Um punhado de metal, tefal e alumínio raspado várias e várias vezes até sair a casca e aparecer o fundo. Até terem toda a sua parte saudável arrancada pela esponja áspera – que encaminha tudo o que não deu certo pelo ralo. Eu e você. Que já encontramos tantos ‘eu e você’ por aí e que insistimos e persistiremos até sujarmos cada taça, bowl e jarra que surgirem em todo o processo.
No final dessa brincadeira, estaremos lá, de luvas, fazendo espuma
com tudo. Escorrendo os copos, as lágrimas, as canecas que um dia já
carregaram leite, sucrilhos e sopa. Passando a mão nas beiradas da pia
para tirar o excesso de água, de expectativa e memórias. De você.
No dia seguinte, o primeiro copo do dia. O gole do início, uma nova
história pronta para começar. Uma repetição que a gente já conhece. Tudo
igual. E por que sujar pratos que já foram limpos e curados? Por que
amar quando já se foi amado? Detonado, surrado. Cansado.
Talvez, eu penso, porque já fomos felizes, emocionados e todos os
adjetivos que nos transformam em buscadores oficiais da repetição.
Daquilo que já vivemos. Queremos relembrar. Como é mesmo a sensação de
usar pratos novos, limpos? De percorrer um caminho em que pisa-se com
cuidado até se chegar no ápice da satisfação e de momentos que, de tão
fascinantes, nos fazem esquecer da bagunça que irá se empilhar no dia
seguinte. Quero a bagunça.
E é mesmo assim. Curioso.
Um processo exaustivo que – no meio de tanta coisa, eventos, casualidades e pessoas – nos mostra que a gente sempre consegue lavar tudo o quê sobrou e começar de novo."
Um processo exaustivo que – no meio de tanta coisa, eventos, casualidades e pessoas – nos mostra que a gente sempre consegue lavar tudo o quê sobrou e começar de novo."
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