segunda-feira, 30 de julho de 2012

louça suja ou limpa?


Meia noite e meia, um Marília de Dirceu nas mãos, a chuva caindo do lado de fora; e eu aqui pensando na crônica que postei uns dias atrás e no que ela me fez pensar.

Desde pequenas nós, mulheres (principalmente), somos apresentadas ao amor renovador e intenso, que faz príncipes moverem montanhas por suas amadas princesas. Cá entre nós, as histórias de princesa, na realidade, nos preparam para um mundo que não existe mais. O "felizes para sempre", para o século XXI, deveria ser "se durar algum tempo, é lucro". O que isso tem a ver com a crônica? Muito simples: começar um relacionamento é fácil, difícil é ver envolvimentos reais, aqueles que chegam ao coração; ou ainda, começar um relacionamento que dure.

Hoje os pratos são descartáveis, iguais aos usados em festas de aniversário para servir o bolo: podem estar o quão sujos for possível que não fará a mínima diferença; quando a festa acabar, serão jogados fora. Não há mais preocupação em limpá-los. Os pratos de verdade ficam limpos, guardados e vacinados. Esses a gente não quer sujar. Dá muito trabalho, afinal, há mais coisas para se preocupar.

Enquanto não dá para ter um prato de gente grande, aperitivos enganam bem e dão um aspecto bonito ao prato; quem sabe um dia a sorte muda e vale a pena sujar toda a louça e bagunçar a pia. Cheia de restos, copos, taças, lembranças, vida e vontade de limpar tudo. E de sujar tudo de novo.

Se tem algo que me faz sorrir e sentir uma inveja branca é ver um casal na rua. Mas não qualquer casal, e sim aquele que divide os cabelos brancos, as rugas e as histórias. Os casais que souberam deixar o prato sempre cheio. É claro que, frequentemente, o prato cai, raxa, esvazia um pouco ou a gente enjoa da mesma porcelana. São em ocasiões como esta que entra um princípio usado na química, que diz: "na natureza nada se cria, nada se perde; tudo se transforma". A capacidade de consertar o que quebrou ao invés de simplesmente se desfazer.

Cometemos o erro de querer o prato cheio da forma como achamos melhor. Talvez por termos sido felizes durante o tempo em que ele esteve desta maneira, ou porque gostamos daquele "recheio". Não é porque uma coisa te fez bem que as outras não farão, ou o contrário; há tantas formas de se montar um jantar. Não podemos é ter medo de arriscar. De sujar os pratos e os talheres. E de lavar a louça e o coração depois, caso precise.

Quem sabe as histórias de princesa não estejam erradas?! Talvez nós que não saibamos mais como arrumar uma mesa de jantar, como escolher o cardápio, os convidados ou como organizar a nós mesmos.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

voltando à musica

Pode parecer estranho, mas não gosto do silêncio absoluto na hora de estudar. Estar em um lugar vazio e silencioso pode transmitir sensações diferentes, depende de como você está se sentindo: ficar com seus próprios pensamentos e em harmonia com o meio serve para refletir sobre a vida, sobre o presente e o futuro. O passado não entra na lista, afinal, perder tempo remoendo o que passou é o mesmo que correr em círculos: em qualquer das situações não se chega a lugar nenhum.
Por outro lado, há dias em que ficar sozinho no silêncio é sufocante. Assim como estar no meio de muita gente também pode ser. Quando eu estou fazendo minhas listas de exercícios parece que uma música de fundo me ajuda a pensar, pois fico mais leve e mais tranquila. É claro que um rock ou uma eletrônica não é indicado pra uma situação dessas.
Então, aí vai meu playlist de estudos (ao menos os que eu mais escuto!):

1. John Mayer

Where the light is (2008)


As músicas dele são maravilhosamente simples e lindas! In your atmosphere, Daughters e Free Fallin são algumas das minhas favoritas.

Born and Raised (2012)


O novo CD também é ótimo, e Queen of California é uma delícia de ouvir!

2. Jack Johnson

In between dreams (2005)


Surf music traz sempre aquela calmaria da brisa do mar, ainda mais na voz de Jack Johnson. O CD é antigo, mas é meu preferido! No other way, Banana Pancakes, Good People e Better Togheter são algumas das mais conhecidas e que estão no álbum. 
Pra quem gosta do artista, outra dica é o En Concert (2009), uma coletânea ao vivo de dois discos com seus sucessos. 


3. Pete Murray

See the sun (2005)


Até pouco tempo eu não conhecia o trabalho dele, mas escutei e gostei bastante! Opportunity, Better Days, Fly with you e Class A são as que mais gosto.



4.. Paul McCartney

Kisses on the Bottom (2012)


Clássico é uma boa definição para Paul McCartney. Um ícone que, ao meu ver, não decepcionou em seu novo álbum. O ex-beatle decidiu gravar músicas que ouvia quando era criança. É um pop/jazz agradabilíssimo de ouvir, incluindo The Glory of LoveOnly Our Hearts, My ValentineI’m Gonna Sit Right Down and Write Myself a Letter.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

amis



 
Não comemoro aqui o dia do amigo. Comemoro meus amigos. A diferença é sutil, mas há.

Pelos amigos de verdade a gente agradece sempre, mesmo discretamente. Ligar de madrugada, chegar de surpresa, ter na família do outro uma parte da sua, enfim, não são coisas que se faz com qualquer pessoa, mas sim com aquelas que confiamos, pois amizade se constrói devagarinho, depois de muitas lembranças compartilhadas. São jeitinhos irritantes, engraçados e espontâneos de dizer que não sabemos viver sem amigos.

Quando fui traduzir amigos para o francês, chamou minha atenção a semelhança com a palavra amor. Ta aí. Não podia haver semelhança mais oportuna, que se encaixasse tão bem.

Milan Kundera, escritor tcheco, escreveu em seu livro, "A Identidade", que a amizade é indispensável para o bom funcionamento da memória e para a integridade do próprio eu. Chama os amigos de testemunhas do passado e diz que eles são nosso espelho, que através deles podemos nos olhar. Vai além: diz que toda amizade é uma aliança contra a adversidade, aliança sem a qual o ser humano ficaria desarmado contra seus inimigos.

Um amigo não racha apenas a Coca-Cola: racha lembranças, crises de choro, experiências. Racha a culpa, racha segredos.

Um amigo não empresta apenas o sapato. Empresta o verbo, empresta o ombro, empresta o tempo, empresta o calor e a jaqueta.

Um amigo não recomenda apenas uma música. Recomenda cautela, recomenda um emprego, recomenda que sejas feliz.

Um amigo não dá carona apenas pra festa. Te leva pro mundo dele, e topa conhecer o teu.

Um amigo não passa apenas cola. Passa contigo um aperto, passa junto o reveillon.

Um amigo não caminha apenas no shopping. Anda em silêncio na dor, entra contigo em campo, sai do fracasso ao teu lado.

Um amigo não segura a barra, apenas. Segura a mão, a ausência, segura uma confissão, segura o tranco, o palavrão, segura o elevador.

Amizade a gente comemora sempre, mas, aproveitando a data especial, desejo aos meus que não comemoremos apenas hoje, mas todos os dias em que pudermos sentir que não estamos sós! Obrigada por enriquecerem minha vida e me manterem aquecida.

~ grande parte dessa minha dedicatória é mérito da genialidade de Martha Medeiros, encontrada no texto "Entre Amigos".

segunda-feira, 16 de julho de 2012

lembranças




Em 24h tantas coisas acontecem conosco, que às vezes lembrar o que comemos no café da manhã se torna um desafio. Imagine, então, chegar ao final de um ano, dois ou até três e tentar recordar o que te aconteceu nesse tempo, do que você foi e o que mudou. Particularmente, eu faço muito disso. Na minha memória tenho tudo guardado, mas fora dela uma caixinha me ajuda a mantê-la viva. Na verdade duas, porque uma já está transbordando.

Confesso que fazia algum tempo que eu não abria minha caixa de lembranças, camuflada como caixa de sapatos. Esse final de semana por acaso a encontrei dentro da gaveta de sempre. Adoro rever minhas bugingas, que, pra mim, são pedaços de pessoas e de momentos; pedaços de mim, dividos com o tempo. Muito mais do que rir das coisas que eu escrevia quando tinha dez ou onze anos, é bom ter um fragmento daqueles que passaram por mim, mesmo que não saibam que o deixaram comigo.

São lembranças de pessoas que entraram na minha vida há pouco tempo e de outras que já estão há uma vida comigo. De gente que uso o " pra sempre" sem medo da sua finitude e de outros que o "até logo" é mais distante do que parece. Desenhos que um dia vou mostrar pras minhas pequenas o que elas faziam pra mim, e tenho certeza que vou ter vontade de rir e de chorar quando isso acontecer.

São "bobagens", realmente. Mas, afinal, o que seria de nós sem as doses diárias de idiotice? Das risadas com as amigas, dos sonhos, da alegria que sentimos com as pequenas coisas; tudo isso contribuiu para o que somos. Nossos dias são feitos de pequenos desejos, brandas saudades e sorrisos sinceros que cada um deles nos traz. É como diz Martha Medeiros: bom mesmo é ser feliz por nada! Esse "nada", fica a critério de cada um. O meu, se resume muito a isso.


sexta-feira, 6 de julho de 2012

Começar um relacionamento



" A pia está limpa, a louça inteira lavada e o que vê é um cenário perfeito: sem sujeira, pratos, nada.
Começar um relacionamento é como usar a louça novamente e apoiá-la em cima de toda a pia. No começo, há o receio de bagunçar o espaço limpo. Foi tão difícil deixá-lo em ordem. Mas uma hora, tudo inicia-se da mesma forma. Primeiro apoia-se um copo. Depois uma xícara com a borra do café, bem devagar. Usa-se um prato, uma panela e alguns talheres. Na sequência, colheres, facas, garfos e quando se vê encontram-se pegadores de macarrão, de sorvete e espremedores de limão.

Aquela pia ali, limpa, já se faz cheia de coisas. Cheia de vida. Do vinho que acompanhou a massa, das bordas de pizza, dos petiscos que ainda estão doces, das cascas de limão usadas no mousse servido na sobremesa. Uma pilha. De expectativa, de medo, de tanta coisa que – se não der certo – precisará ser lavada novamente. Uma a uma. Até que se apaguem as marcas, a saudade, a falta de algo que já foi.

Os pratos. Resilientes como nós.
Resistentes até quando quebrarem.
Usa-se, lava-se e enxuga-se. No meio disso tudo, ama-se. E acumulam-se histórias por toda a parte, músicas, restaurantes, mensagens, beijos, nós. E os pratos. Que logo estão lá, enchendo a cozinha, lembrando que um dia já foram a melhor versão de nós mesmos. Panelas. Um punhado de metal, tefal e alumínio raspado várias e várias vezes até sair a casca e aparecer o fundo. Até terem toda a sua parte saudável arrancada pela esponja áspera –  que encaminha tudo o que não deu certo pelo ralo. Eu e você. Que já encontramos tantos ‘eu e você’ por aí e que insistimos e persistiremos até sujarmos cada taça, bowl e jarra que surgirem em todo o processo.


No final dessa brincadeira, estaremos lá, de luvas, fazendo espuma com tudo. Escorrendo os copos, as lágrimas, as canecas que um dia já carregaram leite, sucrilhos e sopa. Passando a mão nas beiradas da pia para tirar o excesso de água, de expectativa e memórias. De você.

No dia seguinte, o primeiro copo do dia. O gole do início, uma nova história pronta para começar. Uma repetição que a gente já conhece. Tudo igual. E por que sujar pratos que já foram limpos e curados? Por que amar quando já se foi amado? Detonado, surrado. Cansado.

Talvez, eu penso, porque já fomos felizes, emocionados e todos os adjetivos que nos transformam em buscadores oficiais da repetição. Daquilo que já vivemos. Queremos relembrar. Como é mesmo a sensação de usar pratos novos, limpos? De percorrer um caminho em que pisa-se com cuidado até se chegar no ápice da satisfação e de momentos que, de tão fascinantes, nos fazem esquecer da bagunça que irá se empilhar no dia seguinte. Quero a bagunça.

E é mesmo assim. Curioso.
Um processo exaustivo que – no meio de tanta coisa, eventos, casualidades e pessoas – nos mostra que a gente sempre consegue lavar tudo o quê sobrou e começar de novo.
"

~ uma definição: leve! assim como a grande maioria das outras crônicas, que você pode conferir aqui.