sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

esta não é uma história de amor



Calma. Espera. Deixa eu organizar o que quero dizer.

Naquela noite, Clara voltara cedo pra casa, porque era muita coisa dentro de si para suportar até às três da manhã. Estava confusa. Sabia que queria dizer, mas não sabia como. Ligar? Pessoalmente? Um e-mail? Um sinal de fumaça, talvez? Quem sabe uma carta? É, nada tradicional.. era tarde mas, ainda assim, ela pegou um lápis, um papel, e começou.

Eu deveria tirar a maquiagem antes de dormir, mas ela ainda está intacta. Sem borrar ao dançar, ao cochilar ou ao chorar. Até porque, eu não chorei. Você não me viu chorar, apesar da minha vontade. Você não me ouviu reclamar, muito menos xingar, apesar da minha vontade. É um volume muito grande de vontades reprimidas para uma noite, uma semana, um mês. Mas é que, sei lá. Isso tudo, todo esse "medo" do nada-acontecer ou do tudo-acontecer-rápido-demais tem me deixado cansada. 

Eu não preciso de você, e nem você de mim. Talvez por isso as coisas sejam mais complicadas. Eu ouvi todas as suas objeções, entendi todos os seus muros que correm o risco de serem bombardeados a qualquer instante. Gravei tudo, mas não reproduzi nada. Percebeu? Você acha que me conhece pelo meu jeito tranquilo, um tanto quanto esquisito, ou diferente, tanto faz. Posso ser isso mesmo, mas, na verdade, você não sabe nada.

Esse vem e vai deixa um gosto incômodo na minha boca. Valeu a pena deixar o orgulho de lado? Não. Mas não vou negar, vale a tentativa, me deu prazer, foi bom pra mim. Sempre é. Mas depois o gosto incômodo. É sempre assim. No fundo, eu não estava enganada quando te disse que "vocês homens não valem nada". É claro que esse é um clichê ridículo que nem de longe é verdadeiro. Entenda que o que eu quis dizer é que eu sabia como ia acabar. Bem no fundo eu sabia, ou tinha me programado pra esperar isso. Entende o porquê da minha insistência? Porque eu queria estar errada. Eu nunca te disse como é difícil pra mim demonstrar sentimentos. E olha que sou eu quem gosta de poesia. Nem pense também que isso é grande coisa, só pra mim. Pode dizer o que quiser: chata, antiga, demodê. Azar o seu, eu não ligo.

Pra ser sincera, o azar é seu em todos os sentidos, nessa história toda. Porque você é burro, meu caro, burro. Lembra daquela história de eu gostar de você, me importar com você, ter medo por você? Então, esquece. Claro que eu vou ouvir aquela banda foda que você me mostrou e vou lembrar, como eu to fazendo agora, mas isso é...bobagem. Eu só ainda to na dúvida se é tu me virar as costas e sair sem sequer dizer alguma coisa decente, ou ter sido mais um que saiu que ta me incomodando mais. Na real, nada foi bom, mas, não me leva a mal, eu acho que a segunda aperta mais. 

Eu acho, às vezes, que seria mais produtivo perseguir pombos em praça pública. Não? Bem, eu só queria dizer que, apesar desse seu jeito todo iceberg de ser, eu te acho um cara legal. Mesmo. E mesmo que tu não concorde com isso. Tu é um dos melhores caras entre os piores que já conheci. Ou o pior entre os melhores. Não sei. 

Não sei quando ou se a gente vai se falar de novo... então... se cuida, okey? Vê se desfaz esses muros e, já que tu não vai mais me mandar relaxar, pega pra ti o conselho. Aposto que pode ser útil.

Ah, mais uma coisa, fica tranquilo que isso não é uma declaração, um pedido de paz ou algo do tipo. É só um pouco, talvez, do que eu quisesse dizer agora. Não dá bola, assim que meu ataque trevoso de angústia cessar, eu sei, vai ta tudo bem. Na verdade, ta tudo bem. E, por mais que eu não costume concordar, tenho que admitir que parece ser, sim, melhor assim.

Clara releu tudo o que acabara de escrever.
Rasgou o papel, tomou um copo de água e foi dormir.

Um comentário:

  1. um dos melhores textos do blog. não sei se feliz ou infelizmente transmite tanta veracidade e sentimento que penso se não é baseado em uma história real, e muito pessoal.

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